sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

The Natural Step


Este sistema - lançado na Suécia, em 1989 e revelado em livro por seu criador, Karl-Henrik Robert - representa uma possibilidade para uma evolução ímpar, conquistada através de conhecimentos científicos, diálogo, criatividade e experiência em realizações por um mundo melhor

Por Fernanda Torres

Imagine você e sua família, filhos brincando pela casa, você assistindo ao noticiário depois de um dia de trabalho, som de panelas e talheres na cozinha, tudo como de costume. Seu filho mais velho senta à mesa central da sala e inicia o ritual de abertura das cartas que chegaram pelo correio. Uma das correspondências chama sua atenção pelo volume, você abre e ali estão um vídeo e uma carta. Trata-se de um manifesto, algo que foi entregue para todos os lares e escolas do seu país. Você pede a atenção da família e o processo de aprendizagem se inicia.
Assim foi o lançamento do projeto "The Natural Step" - TNS, na Suécia, em abril de 1989. Lá, 4,3 milhões de endereços abriram a mesma "caixa de Pandora". Estavam lá os males da humanidade e a Esperança. Algo utópico por natureza, porém fascinante e capaz de provocar reflexões e a vontade por uma nova era. A conversa foi para dentro dos bares, circulou entre vizinhos, governos, nas escolas, instituições e empresas.
O que mais chama a atenção na história de Karl-Henrik Robert (criador do TNS e autor deste livro fantástico) e sua equipe de cientistas e filósofos é o raciocínio criativo capaz de criar metodologias e ferramentas dentro do campo da ciência de gestão em sustentabilidade, numa época onde raramente se ouvia alguém dizer que estávamos, cada vez mais, invadindo fisicamente os sistemas permanentes de sustentação da vida. Certamente eles romperam paradigmas e ofereceram às sociedades formas de promover o desenvolvimento sustentável.
Depois de terem determinado os quatro instrumentos básicos pelos quais a sociedade humana poderia lesar a natureza, definiram as quatro Condições Sistêmicas consideradas por eles como necessárias para a sustentabilidade. Elas dizem que, na sociedade sustentável:
- A natureza não está sujeita a concentrações sistematicamente crescentes de substâncias extraídas da crosta terrestre: podemos pensar em substituir certos minerais que são escassos na natureza por outros mais abundantes e a utilizar de forma eficiente todos os materiais de mineração;
- A natureza não está sujeita a concentrações sistematicamente crescentes de substâncias produzidas pela sociedade: aqui, a substituição de certos compostos persistentes e antinaturais pelos que normalmente são abundantes ou que se decompõe mais facilmente na natureza;
- A natureza não está sujeita a degradações sistematicamente crescentes por meios físicos: só tirar recursos de ecossistemas bem-administrados, além do uso mais produtivo e eficiente agindo com precaução em todos os tipos de modificações da natureza e
- As necessidades humanas devem ser satisfeitas em todo mundo: importante contribuir o máximo possível para atender às necessidades humanas na nossa sociedade e em todo o mundo, e acima de todas as substituições e medidas tomadas para atingir as três primeiras condições.
Interessante esta mudança de foco: observar as causas retrospectivas, chamadas pelo TNS de "perspectiva rio acima" dos problemas ambientais, em vez de seus sintomas prospectivos numa "perspectiva rio abaixo".
Outro sintoma criativo de pensamento e análise fora do padrão convencional do TNS, ou o que buscamos no "pensar diferente para fazer diferente" e que resultou numa ferramenta, é o backasting. Nele, devemos imaginar um resultado bem-sucedido no futuro e, então, nos perguntar sobre o que é possível fazer no presente para alcançar aquela meta.
Entendendo que nossas escolhas afetam de alguma forma a biosfera, talvez a pergunta que devemos fazer seja: o que de fato queremos como futuro ideal de vida? Esse entendimento coletivo nos conduziria a melhores escolhas? Se nós co-construímos nossas realidades e estamos diante de um novo contexto de desenvolvimento chamado sustentabilidade, o que para nós há de melhor e em que cenário gostaríamos de viver?
Na filosofia pagã, Pandora não é a fonte do mal, ela é a fonte da força, da dignidade e da beleza, creio que sem adversidade o ser humano não poderia melhorar. Porém, com novos hábitos, valores e princípios - propostos pelas experimentações em sustentabilidade -, a adversidade talvez ganhe uma outra definição para nós: a de uma somatória de qualidades que pode compor um caráter, capaz de determinar ao indivíduo a conduta e a concepção moral. O The Natural Step representa uma possibilidade para esta evolução, através de conhecimentos científicos, diálogo, criatividade e experiência em realizações por um mundo melhor.
* O Dr. Karl-Henrik Robèrt é oncologista e professor de Teoria de Recursos Materiais, na Universidade de Gotemburgo, na Suécia. Ele iniciou o movimento The Natural Step em 1989. Foi agraciado, em 1999, com o Green Cross Award de Liderança Internacional e, em 2000, com o Blue Planet Prize - considerado o "Nobel do Ambientalismo".
Imagine você e sua família, filhos brincando pela casa, você assistindo ao noticiário depois de um dia de trabalho, som de panelas e talheres na cozinha, tudo como de costume. Seu filho mais velho senta à mesa central da sala e inicia o ritual de abertura das cartas que chegaram pelo correio. Uma das correspondências chama sua atenção pelo volume, você abre e ali estão um vídeo e uma carta. Trata-se de um manifesto, algo que foi entregue para todos os lares e escolas do seu país. Você pede a atenção da família e o processo de aprendizagem se inicia.
Assim foi o lançamento do projeto "The Natural Step" - TNS, na Suécia, em abril de 1989. Lá, 4,3 milhões de endereços abriram a mesma "caixa de Pandora". Estavam lá os males da humanidade e a Esperança. Algo utópico por natureza, porém fascinante e capaz de provocar reflexões e a vontade por uma nova era. A conversa foi para dentro dos bares, circulou entre vizinhos, governos, nas escolas, instituições e empresas.
O que mais chama a atenção na história de Karl-Henrik Robert (criador do TNS e autor deste livro fantástico) e sua equipe de cientistas e filósofos é o raciocínio criativo capaz de criar metodologias e ferramentas dentro do campo da ciência de gestão em sustentabilidade, numa época onde raramente se ouvia alguém dizer que estávamos, cada vez mais, invadindo fisicamente os sistemas permanentes de sustentação da vida. Certamente eles romperam paradigmas e ofereceram às sociedades formas de promover o desenvolvimento sustentável.
Depois de terem determinado os quatro instrumentos básicos pelos quais a sociedade humana poderia lesar a natureza, definiram as quatro Condições Sistêmicas consideradas por eles como necessárias para a sustentabilidade. Elas dizem que, na sociedade sustentável:
- A natureza não está sujeita a concentrações sistematicamente crescentes de substâncias extraídas da crosta terrestre: podemos pensar em substituir certos minerais que são escassos na natureza por outros mais abundantes e a utilizar de forma eficiente todos os materiais de mineração;
- A natureza não está sujeita a concentrações sistematicamente crescentes de substâncias produzidas pela sociedade: aqui, a substituição de certos compostos persistentes e antinaturais pelos que normalmente são abundantes ou que se decompõe mais facilmente na natureza;
- A natureza não está sujeita a degradações sistematicamente crescentes por meios físicos: só tirar recursos de ecossistemas bem-administrados, além do uso mais produtivo e eficiente agindo com precaução em todos os tipos de modificações da natureza e
- As necessidades humanas devem ser satisfeitas em todo mundo: importante contribuir o máximo possível para atender às necessidades humanas na nossa sociedade e em todo o mundo, e acima de todas as substituições e medidas tomadas para atingir as três primeiras condições.
Interessante esta mudança de foco: observar as causas retrospectivas, chamadas pelo TNS de "perspectiva rio acima" dos problemas ambientais, em vez de seus sintomas prospectivos numa "perspectiva rio abaixo".
Outro sintoma criativo de pensamento e análise fora do padrão convencional do TNS, ou o que buscamos no "pensar diferente para fazer diferente" e que resultou numa ferramenta, é o backasting. Nele, devemos imaginar um resultado bem-sucedido no futuro e, então, nos perguntar sobre o que é possível fazer no presente para alcançar aquela meta.
Entendendo que nossas escolhas afetam de alguma forma a biosfera, talvez a pergunta que devemos fazer seja: o que de fato queremos como futuro ideal de vida? Esse entendimento coletivo nos conduziria a melhores escolhas? Se nós co-construímos nossas realidades e estamos diante de um novo contexto de desenvolvimento chamado sustentabilidade, o que para nós há de melhor e em que cenário gostaríamos de viver?
Na filosofia pagã, Pandora não é a fonte do mal, ela é a fonte da força, da dignidade e da beleza, creio que sem adversidade o ser humano não poderia melhorar. Porém, com novos hábitos, valores e princípios - propostos pelas experimentações em sustentabilidade -, a adversidade talvez ganhe uma outra definição para nós: a de uma somatória de qualidades que pode compor um caráter, capaz de determinar ao indivíduo a conduta e a concepção moral. O The Natural Step representa uma possibilidade para esta evolução, através de conhecimentos científicos, diálogo, criatividade e experiência em realizações por um mundo melhor.
* O Dr. Karl-Henrik Robèrt é oncologista e professor de Teoria de Recursos Materiais, na Universidade de Gotemburgo, na Suécia. Ele iniciou o movimento The Natural Step em 1989. Foi agraciado, em 1999, com o Green Cross Award de Liderança Internacional e, em 2000, com o Blue Planet Prize - considerado o "Nobel do Ambientalismo".

23 de agosto de 2008
Transcrito do blog original

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