Márcia P. Dias,
psicóloga e consultora organizacional
Márcia tem se dedicado a difundir, principalmente em empresas, esse
modelo de liderança baseado nas idéias do Milionésimo Círculo, de Jean Bolen, e
do movimento das Ecovilas. É um novo paradigma de desenvolvimento
organizacional.
As ecovilas são assentamentos humanos auto-sustentáveis. É um
movimento em ascensão, contando hoje com cerca de 15 mil comunidades no mundo
inteiro , que possibilita a troca de informações em áreas como agricultura
(bio-dinâmica e permacultura), bio-construções (materiais reciclados), saúde,
governança (liderança circular) e transculturalidade (aceitar o diferente, sem
dogmas; celebração).
Jean Bolen é psicanalista junguiana. O Milionésimo Círculo é
inspirado no experimento científico denominado O Centésimo Macaco, que
demonstrou que um aprendizado adquirido por um grupo de símios em uma ilha
isolada acabou se propagando, de forma espontânea, para macacos que habitavam em
outras ilhas. Um grupo cria uma massa crítica que transcende seus próprios
limites e se transmite pelo ambiente onde se encontra. Segundo a pesquisadora,
um milhão de círculos propagando o novo modelo de mundo que queremos poderá
atingir a humanidade inteira e mudar o planeta, instaurando a nova era
pós-patriarcal
O círculo não é hierárquico, ele permite que todos olhem para todos
em uma situação de igualdade. O fluxo de energia se concentra no centro, com a
união de todos os raios. Na ponta de cada raio estão os participantes do
círculo. Essa disposição propicia maior poder à organização, bem como o
compartilhamento coletivo das experiências individuais: é uma nova forma de
organização humana. O círculo cria um continente cuja criação só depende de nós
mesmos. Mas é um espaço permeável e retro-alimentável. Ele é um campo mórfico
vivido pela humanidade há milhares de anos, comprovado pelo estudo das
tradições. O homem perdeu esse conhecimento e agora busca resgatá-lo.
A gestão circular é integrada ao movimento de desenvolvimento
sustentável. Ela também pode ser adotado em muitos aspectos de nossa vida.
Comecemos dispondo as cadeiras em círculo, em nossas reuniões, sepultando de
forma definitiva as tradicionais plenárias. Temos que combater a ilusão da
separatividade, que faz com que nos vejamos fragmentados. O mundo está muito
quadrado, yang, masculino, cartesiano. O círculo traz o equilíbrio entre os
oposto, resgatando o feminino e buscando a complementaridade. A idéia é de que
todas as coisas podem ser parceiras e haver cooperação entre o que é
dual.
Na estréia do caderno de Gestão do jornal Zero Hora, foi dito que "é
questão de tempo para que nos organogramas das empresas passe a existir o
Conselho de Sustentabilidade". Esse conceito está se tornando um instrumento de
governança, agregando-se às estratégias de ação das organizações.
Nós, enquanto seres espirituais, escolhemos o tempo atual para
vivermos na terra, uma época desafiadora, onde temos que saber lidar
simultaneamente com a luz e com a sombra. Um outro mundo é possível, e um dos
meios para alcançá-lo é através do caminho da sustentabilidade.
As empresas se preocupam com a instabilidade do mercado e vêem crise
diante do menor sinal de incerteza. No entanto, quando se centra, se coloca
foco, a insustentabilidade, que é o que provoca as crises, se torna previsível.
E esse cenário não se modificará se os movimentos necessários não acontecerem. A
sustentabilidade depende do equilíbrio de muitos fatores, busca atender às
necessidades do presente sem comprometer as gerações futuras.
A gestão circular traz as ferramentas para as organizações tornarem a
vida sustentável, que é o nosso objetivo maior. Ela convoca as pessoas a se
tornarem líderes, em primeiro lugar de nossas próprias vidas. Estamos sempre
liderando alguma coisa. Não temos mais pelo que esperar para pôr a mão na massa,
para fazer a diferença. O momento de agir é AGORA! Lembrando o antigo ditado:
"Quando o discípulo está pronto, o mestre aparece." Podemos mudar a forma como
nos colocamos no mundo, a partir de gestos simples, como implementar a coleta
seletiva de lixo no prédio onde moramos.
Esse modelo é mais democrático do que as outras maneiras de gestão,
influindo diretamente nas relações de poder. Reconstrói-se uma forma de
relacionamento destruído pelo patriarcado. A mudança só vai acontecer quando nos
mudarmos e passarmos a ouvir o outro. A gestão circular faz com que
identifiquemos as formas que lidamos com o poder e aprendamos a compartilhá-lo
de verdade. Percebe-se que a liderança se alterna, é fluídica, depende de cada
situação, de cada momento. Torna transparente a sinceridade que aceitamos o
empoderamento de cada um. O líder deve saber entregar seu poder, e não apenas
simular. O círculo reconhece o poder do outro, a existência de mais de uma
verdade. Pede experimentação: liderar e ser liderado. É um novo formato para a
vida da gente.
Márcia Dias relatou sua participação em duas experiências distintas:
em um círculo de mulheres, que se reúne mensalmente, sempre liderado por uma
pessoa diferente, e no Conselho Gestor da UNIPAZ -SC((Universidade Holística, de
Florianópolis), integrado por 23 membros.
Hoje os governos gastam bilhões com hospitais: uma parcela ínfima
desse dinheiro daria mais retorno em saúde pública se fosse aplicado nos
processos de participação popular, como o movimento das cidades saudáveis. O
modelo ainda vigente é o de acumular energia e amedrontar as pessoas.
Prestamos mais atenção ao calendário e só percebemos a sincronicidade
apenas quando nos interiorizamos. Capra declarou que levará pouco tempo para as
organizações perceberem que devem mudar seus sistemas para sincronizarem com a
natureza, com a vida, objetivando atingir a sustentabilidade. Segundo alguns, é
hora de sair do Admirável Mundo Novo e ir para o mato - ou jardim ... Como
estamos cultivando nossos jardins? É chegado o momento de nos tornarmos líderes,
assumindo nosso papel onde for necessário e possível.
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